quarta-feira, 6 de outubro de 2010

NÚMEROS

A cada rodada disputada, este blogueiro faz um balanço sobre os resultados, média de gols e somatória de bolas nas redes e de detalhes da Série B. Agora relato os números de uma recente experiência - a qual optei por não divulgar em função do exercício dessa prática até então - na função de recenseador do Censo do IBGE 2010. Por durante exatos dois meses (entre o início de agosto até o começo do mês de outubro) participei da nova contagem do país percorrendo quatro quadras do Centro de Curitiba (delimitação do meu setor, que é a região de ação de cada recenseador). Foram visitados pouco mais de 1.100 locais entre estabelecimentos comerciais, residências e locais sem ocupação (domicílios vagos ou em construção).
Nas visitas foram realizados 591 questionários, em 15 prédios e contato com pelo menos 1.000 pessoas (entre pesquisados e aqueles que informaram não ser moradores do local, além de porteiros, síndicos e visitas de moradores). Havia uma expectativa inicial de uma experiência rica e surpreendente. Mas foi além do que aguardava: nestes pouco mais de 60 dias este blogueiro/recenseador se deparou com gente estranha, com pessoas acessíveis, com curiosos, com fatos bizarros e sujeitos mais estapafúrdios ainda. Isso fora a satisfação de reencontrar um amigo dos tempos do antigo ginásio (de distantes 26 anos atrás), de conhecer a ex-aluna de meu avô e de ter notícias de um colega dos tempos de universidade (pois sua irmã é síndica de um dos edifícios de meu setor).
A abrangência dessa efêmera função vai além da prática nas ruas. A satisfação se estende ao bom contato com os colegas de Censo sejam eles os recenseadores como os supervisores. Nada a reclamar, a não ser a proximidade do fim do trabalho. Um contato de primeira com a assinatura deste blogueiro "de segunda".


SUGESTÃO BEM-VINDA E IDEIA CONJUNTA
Num dos dias em que me aventurava pelas ruas em busca de meus entrevistados, encontrei o também blogueiro e jornalista Ayrton Baptista Júnior (do blog Craques e Caneladas) que me disse: "por que você (eu) não faz um livro de memórias sobre os acontecimentos durante o Censo?". Ao que respondi: "seria um livro chamado 'Memórias do Bom Senso?'". Rimos juntos e "fechamos" o negócio. Quem sabe, em breve nas livrarias.

APERITIVO
Com total sigilo de nomes e em respeito às normas do IBGE, segue um fato ocorrido durante a coleta. Uma crônica pra anunciar o futuro livro de memórias.
Feliz desaniversário
Sou recebido por um homem da minha faixa etária (um pouco acima dos 40 anos), no início da noite de um dia de semana e no domicílio estavam, naquele momento, além do entrevistado, a sua filha e um simpático cão (cuja raça não me vem à lembrança, mesmo porque os animaizinhos não são inclusos no Censo).
A receptividade estava dentro do conteúdo do respeito e do bom grado, até que numa das perguntas o entrevistado se inflamou. E está equivocado quem imagina que a reação ocorreu no momento em que fora perguntado sobre a renda mensal. A insatisfação se deu quando a pergunta era sobre mês e ano de nascimento.
- Por que você quer saber?, retrucou o antes educado entrevistado
- Porque é preciso, dentro de um parâmetro da pesquisa do Censo, verificar a faixa etária da população além de que o cruzamento de dados fornece números para um levantamento mais preciso da situação da população (que obediência ao manual eu fiz nessa resposta, toda de-co-ra-di-nha, porém suficiente para frear a ira do preocupado homem)
- Hã.. (sim, ele ficou no hããã...)
Breve pausa. Em seguida ele "revelou" seu mês e ano de nascimento.
Queria ele algum mimo em seu aniversário? Estaria ele querendo esconder uma idade que, honestamente, era compatível com a sua aparência? Quanta brutalidade para um jovem pai (e dono de cãozinho). E pensar que entrevistei um "sem número" de senhorinhas e senhores - alguns quase centenários - e boa parte "jovens acima dos 70 anos" que não hesitaram em dizer com clareza o ano de nascimento (mil.. novecentos e... faz tempo!).

ENTRADAS
Após o aperitivo, um couvert para alimentar a fome. Mais um fato (de bom senso).
Incenso
O porteiro gentilmente presta ajuda ao recenseador ligando pelo interfone para cada morador do prédio.
Diz o colaborador: "olá, senhor fulano (ou senhora fulana), tudo bem? O rapaz do incenso está aqui, você pode atendê-lo? São apenas cinco minutinhos!"
Para não desfazer da fiel colaboração, esperei por uma brecha na fala para corrigi-lo: "diga que é do Censo do IBGE!"
- Ah, sim, do incenso.
- É, do Censo do IBGE.
- Isso mesmo, do Censo!
Por alguns instantes me coloquei no lugar do morador (ou da moradora) que imaginaria algum indiano ou monge de qualquer espécie (ou religião) a sua espera na portaria, em posição de lótus e fazendo "ahmmmmmmm....".